terça-feira, 14 de abril de 2009





I

As trevas que se abateram sobre Val


-----Corre a noite ao acaso, soluçando sôfregos suspiros que retêm o brotar das lágrimas. Passa por um grupo de pessoas que espera a vez de entrar, no local onde tantas vezes já se perdeu no tempo, na companhia das colegas de faculdade e em prelúdios de paixão. Agora não consegue nem olhar na procura de alguém conhecido, quer mesmo estar só, tentar compreender o que acabou de suceder. Procura dar claridez aos pensamentos, racionalizar o que fez deflagrar o fim da relação.
– Não! Acabou! Ainda não percebeste que terminamos mesmo antes de começar? – Mas o que ele queria dizer com isso, “mesmo antes de começar”?! Então nunca gostou de mim?! Não entendo, só porque cancelei o estarmos juntos algumas vezes este mês! É a Ana, só pode ser! Gosta dela. E disse-me aquelas palavras como se eu não fosse nada: “ACABOU! AINDA NÃO PERCEBESTE?”
– Mas porquê? Porquê? O que é que eu fiz?
– Não fizeste nada. Como eu não fiz nada. Simplesmente não consigo continuar a alimentar esta relação.
– Olha para mim! Olha! Quero que me digas sem desviar o olhar que não gostas de mim, que já não estás apaixonado, que estes dois anos não tiveram valor nenhum…
– Claro que tiveram. Não é por isso. Mas é que eu nunca gostei de ti como tu gostas de mim. E não consigo continuar assim.
– Não acredito. Não podes dizer isso assim sem mais nem menos, vindo do nada. O que é que se passa? Diz-me o que se passa para podermos resolver as coisas.
– Não tem nada a resolver. Já te disse. Não tornes isto mais difícil do que já é.
– Mais difícil? Estás a gozar? Já olhaste bem para ti? Estás aí como se nada fosse. Decides de um dia para o outro acabar, e ages como se se tratasse da coisa mais natural do mundo. Não acredito em ti, já viste bem o que nós vivemos? És a primeira pessoa de quem eu gosto mesmo. Depois de eu te ter dito que estava apaixonada por ti, depois de termos estado juntos…
-----Inês não conseguiu acabar o que estava a dizer, irrompeu em lágrimas e todo o corpo estava em convulsões que lhe impediam de controlar os seus movimentos, tropeçou na elevação à entrada, caindo de joelhos na poça de água que a chuva tinha preparado para si e para o vestido eleito de entre todos os que durante a tarde tinha experimentado. Percorria os passeios do anoitecer, assombrada do que lhe tinha acontecido.
-----Recolhida a um degrau, nas traseiras de um qualquer edifício de habitação, o frio invadiu o lamento e despertou-a para o sangue que escorria nas palmas das suas mãos, consequência da vil queda. Observava a ferida, não percebendo o porquê de esta não lhe doer tanto quanto de todas as outras vezes, de todas as outras feridas que precisou de atenção. Ignorava que era a mágoa, o pesar invisível, que lhe suplantava qualquer outra dor. Procurou distinguir a forma do telemóvel tacteado os objectos dentro da bolsa, mas percebeu que o tinha deixado no café. Não sabia as horas, mas reconhecia no humor da noite que já se deveria ter recolhido a casa, no entanto não se conseguia levantar, fez um último esforço, apoiando-se à luz de rua que lhe fazia companhia, mas não tinha forças nem vontade suficiente para voltar. Queria estar só. Tudo lhe parecia sem importância, qualquer repreensão por chegar tarde a casa, qualquer censura de não ter ligado a dizer onde estava. E deixou-se estar, encostada ao candeeiro que se apagou para se unir à sua amargura.
-----Foi despertada por uma voz conhecida, mas que a mente demorou a aceitar.
– Inês! Estão todos à tua procura. Os teus pais andam a ligar-me a cada cinco minutos.
– Perdi a noção do tempo, não sei que horas são!
– Não te preocupes que eu já lhes contei o que aconteceu, só que tens de ir para casa. Anda que eu estou de carro. – Recusando-se a levantar, observava as feições da sua melhor amiga, que lhe pareciam tão meigas e enternecidas.
– Já lhes contaste o que aconteceu? – Ana fraquejou, e debruçou-se sobre o corpo imóvel, submissa às palavras que temia ouvir.
– Desculpa.
-----Suspensa no significado que aquela palavra queria dizer, as lágrimas cessaram, o respirar extinguiu-se, e o corpo desligou-se da realidade, caindo inanimado sobre o colo da incerteza que se assumiu real.

-----Pela manhã de sábado, não desceu para o pequeno-almoço. E deixaram-na descansar. Ao início da tarde a mãe preparou um tabuleiro, e abriu vagarosamente a porta do quarto. Pousou-o sobre a mesa de estudo e correu levemente as persianas. Não obteve reacção. Sentou-se na berma da cama junto ao vulto encolhido, sem ter ainda escolhido as palavras para dizer. Observou os lenços que cobriam o chão, passou a mão pelas marcas que o choro deixou no lençol e entristeceu-se num suspiro. Tocou com uma carícia no ombro da filha chamando calmamente o seu nome.
– Vamos, tens de comer qualquer coisa.
– Não quero.
– Vai ajudar a passar.
– Não quero saber se passa ou não. Não quero nada. Quero ficar só.
– É normal estares a pensar assim. Só que eu também sei que precisas de sair desse estado em que estás. Faz-me este favor e bebe pelo menos o sumo que fiz p’ra ti. – Inês recolheu-se à sua masmorra de cândidos lençóis, sem dizer mais nada.
-----Ao sair apanhou os lenços, mas deixou a janela aberta, na esperança que a claridade a alegrasse, ou mesmo, que fosse apenas obrigada a pôr-se a pé para escurecer o seu refúgio.
– Como é que ela está?
– Como é que havia de estar?!
– Dá-lhe tempo. Agora não se pode fazer nada. O que eu não percebo é porque é que acabaram. Ela alguma vez disse que as coisas estavam mal?
– Já sabes como ela é, mesmo que estivessem não diria nada. Mas também se foi ele que acabou… Nem sei se quero que se arrependa ou que desapareça para sempre. Mas ela é que sabe.
– É horrível esta sensação de que não posso fazer nada. Queria sair porta fora, encontrar o rapaz, cimentar-lhe uns pares de estalos e obrigá-lo a colocar tudo bem outra vez. Por outro lado, já se sabe que para isto ter acontecido, também nunca iria durar. Toda aquela inocência que ela ainda tinha, todas a certezas e encantos do primeiro amor vão agora desaparecer. Não se faz.
(alguém toca à campainha)
– Deve ser a Ana, ela ligou a dizer que ia passar por aqui.

-----Com um sorriso forçado, cumprimentou os pais da sua amiga, e hesitante subiu as escadas, ficando em confronto com a desgostosa realidade, na qual tinha um papel, que preferia que não tivesse sido escrito para si. – Bateu à porta, mas não obteve resposta. Ao entrar, reparou nos olhos húmidos, que rapidamente desviaram o olhar. Deu uns passos na sua direcção, mas parou indecisa sem saber o que fazer. O coração tremia-lhe todo o corpo, e deixou-se cair no chão, aguardando que não tivesse de ser a primeira a falar. O sôfrego silêncio apoderou-se das duas, esperando um motivo para se quebrar.
– A sério que não sei o que dizer. Ele disse-me à pouco tempo, o que sentia por mim. E eu, eu não sei. Mas disse-lhe que não, que não podia ser, que não voltasse a falar no assunto. Que o melhor era não estarmos mais juntos. Por isso é que não fui ontem, e ele viu que eu não estava lá e… Desculpa! Não sei o que dizer. Vá lá não fiques assim, diz alguma coisa. Eu não pude fazer nada, aconteceu. – Sem se virar, desaparecia num tom resoluto.
– Tu gostas dele?
(Depois de um momento de hesitação) – Não sei.
– Ele não mudava assim sem mais nem menos! É porque lhe disseste alguma coisa.
– Não disse nada, muito pelo contrário, quando soube afastei-o o mais que pude, para ver se as coisas voltavam ao normal.
– Mas deste-lhe esperança. De certeza que como eu não estive com ele este mês tu lhe deste esperança. Andaste a sair e a fazer companhia em minha vez. A culpa é toda tua.
– Não digas isso. Sendo assim a culpa seria tua, que nos últimos tempos não lhe tens ligado nenhum. E acabamos por nos aproximar.
– Estive ocupada com a faculdade e com o estágio a dar o máximo para que tudo corresse bem. Não acredito que me fizeste isto.
– Mas eu não fiz nada.
– NÃO FIZESTE NADA? Então o que é isto que eu estou a sentir? Então por que é que até falar me dói? Então porque é que me apetece deixar de viver?
(irrompe em lágrimas e soluços eufóricos e intermináveis)
– Não digas isso. Nem imaginas como eu me sinto. Só queria que nada disto tivesse acontecido. Só queria poder voltar atrás no tempo e não ter passado tanto tempo com ele.
– Sai. Sai daqui! Deixa-me em paz. Vai p’rá beira dele que não te quero ver mais.
– Não, não digas isso. Eu vim para que tu percebesses. Eu não queria que isto acontecesse.
– Não tenho nada a perceber. Não te quero ver e não o quero ver a ele. E QUERO É QUE SAIAS DAQUI!
(Ana sem saber o que fazer ou o que dizer, saiu a chorar, embatendo no tabuleiro da comida e deixando tudo espalhado pelo chão.)

-----Toda a intensidade da discussão, deixou Inês ainda mais frágil, caindo na completa tristeza e rendendo-se à angústia de quem não tem razões para acordar.
-----Marie compreendeu o que se tinha passado, e deixou a filha descansar o resto do dia. Muito por culpa de não saber o que fazer. Nunca teve de passar por isso. Apaixonou-se e casou, e até então estava feliz de não saber o que era tratar os desgostos de amor. – Deve estar com fome. Amanhã já tem de vir comer.

-----Debruçada sobre a janela aberta, a luz matinal luzia-lhe a transparência do cetim que usava ao dormir. Os longos cabelos escuros, cobriam-lhe os ombros, numa delicadeza que contrastava com o selvagem acordar em que se encontravam. Sentou-se na cadeira de estudo, e deixou-se descair num misto de desistência e cansaço, ficando com parte do corpo a descoberto, que lhe realçava a elegância das suas singelas feições. O sedutor cenário, acabava composto, pela brisa que entrava a alimentar a desordem, e tudo parecia já além da vontade de um motivo para sorrir.
-----Não queria enfrentar ninguém, era domingo e a casa esperava a visita de familiares o resto do dia. – Vão tratar-me como um episódio qualquer das suas vidas de sempre, não estou para me explicar e ouvir as palavras vazias que não compreendem o que aconteceu. Para eles nós somos só mais uma relação que deixou de acontecer, como se o tempo me libertasse deste aperto, e diminuísse o volume da minha tristeza. Ninguém consegue ouvir, a perturbação do desejo que tenho de o procurar, de me permitir esquecer tudo e começar outra vez. Mas ele nem deve estar a pensar em mim, fui só algo que deixou de acontecer, como um remetente esquecido, uma página de um livro que não se volta a ler. E eu pensava-o o livro todo, o final da história, o romance que dava cor a todos aqueles dias de Inverno, o sentido de querer aguardar por mais um destes absurdos dias que são tão difíceis. Não sei o que fazer, que horrível sensação de desequilíbrio, e não posso falar com ninguém, QUE NERVOS, nunca mais a quero ver. Nunca mais quero ver ninguém, não quero saber de mais relação nenhuma, são todos estúpidos! A partir de agora só confio em mim. – Ficou a observar o hastear do sol, absorta nos pensamentos que a sua paixão encobria de fúria. Os raios de calor penetravam-lhe o corpo, nutrindo o alento, fornecendo ânimo, como se compreendessem a sua dor e se juntassem a ela. Sentia-se num estado apático, nada a impelia ao cuidado matinal, desviava a face do espelho que cobria parte da parede de entrada, mas sentia a incómoda sensação de um corpo transpirado, e concedeu-se levantar e deixar correr a água morna que levava parte da angústia que tinha em si. Passava a esponja pelos braços e corria levemente o peito, mas desta vez imune aos prazeres que este acto relaxante tantas vezes a preparara para o amanhã. A provocante espuma já não conseguia incomodar e escorria-lhe o rosto no trilho deixado pelas lágrimas, parando ao sabor dos lábios traídos, que se inclinavam levemente para trás colhendo o cair refrescante que por momentos a libertavam de pensar.

-----O confortável toque da roupa de Inverno abraçava-a a caminho do café onde esperava que tivessem guardado o telemóvel. Parou junto ao seu confidente metálico, que lhe tinha oferecido a luz por companhia e vacilou em passar a estrada. Era já ali, e se ele estivesse lá? A ideia de o ver ou de que estivessem juntos, fez com que desse uns passos atrás. Voltou a amparar-se do seu fiel candeeiro, aconchegou o cachecol junto do pescoço, e aqueceu uma luva contra a outra, numa fricção que espera o acto resoluto de começar a andar.
– Bom dia. Eu queria saber se não guardaram um telemóvel que eu deixei ficar na sexta à noite?
– Sim, você saiu a correr e deixou cair o telemóvel. Mas o rapaz que estava consigo ficou com ele. – Sentiu tremer o corpo todo à possibilidade de ter de o tornar a ver.
– Está bom, obrigada.
-----Não sabia que direcção tomar. Não julgava ter o confronto que tanto temia, prestes a acontecer. Ele morava perto, era só lá ir e reaver o que era seu. Talvez nem estivesse em casa, o pai dava-lho e estava resolvido. – E se estiver também tanto faz, quero ver o que ele diz, se está arrependido se quer falar comigo se também se sente como eu. Até pode ser que sinta, e está só à espera que eu lhe diga que o perdoo. É melhor agora, do que deixar passar mais tempo, para que esteja viva a lembrança dos momentos que passamos juntos, de tudo o que dei de mim. – Andava enquanto falava para si, e deteve-se à entrada tão familiar. Pousou a mão sobre a campainha, e acariciou com indecisão a ideia de pressionar. Mesmo sem se aperceber, ouviu um som estridente que a avisava que tinha acabado de tocar. Segurou-se à berma das grades e esperou até que o ranger da porta deu sinal que estava aberta e uma face algo surpresa apareceu. Um único momento que parecia não ter fim, e olhavam-se sem reacção, sem palavras, sem que soubessem bem o que fazer. Ambos percebiam a perturbação que os mantinha em silêncio, e Inês não o conseguia romper numa palavra.
– Tenho o teu telemóvel. (E levantou-o de uma mesinha mesmo à entrada) – Ficou sem bateria.
-----Estendeu a mão, e os seus dedos tocaram-se levemente num afecto que Paulo não queria que acontecesse. O degrau de entrada elevava-o e sentia o embaraço desaparecer. Ela cruzava os braços, na indicação que esperava que dissesse alguma coisa. – Será que quer que me justifique outra vez? Mas para quê? Vou dizer o mesmo, não tenho nada novo, não digo nada, para que compreenda que disse o que tinha a dizer. Parece tão vulnerável, tem um olhar triste mas é melhor não perguntar nada, se pergunto como está vai começar a falar e voltamos a discutir, e não sei o que dizer para se sentir melhor, não posso dizer nada, tudo leva a que tenha esperança de voltarmos a ficar juntos. Para quê insistir?! Acabou pronto, não é preciso falar mais nisso, não é preciso estar a ter encontros incómodos, só queria que percebesse isso. Mas não lhe posso dizer nada disto, também não merece. Se tivesse acabado mais cedo tinha sido melhor, agora vai pensar que foi por causa da Ana, que sou igual aos outros rapazes todos, devia ter-lhe dito mais cedo que não nos conseguia ver juntos mais tempo, não, não é por algo que fizeste, tu és perfeita, só que és perfeita demais, não consigo respirar. Tenho de te deixar ir. Eu sei que me vais odiar, mas talvez me perdoes um dia, quando tudo isto não passar de uma memória, quando pudermos voltar a ser amigos, sim porque eu não te quero perder, só queria que voltássemos ao início, quando conversávamos sobre tudo, sem aquela obrigação de estar sempre de acordo, sem a constante preocupação de dizer o que te vai deixar feliz. Se tu percebesses que fico triste ao ver-te assim. Apetece-me largar tudo e dizer que fui um estúpido, que quero abraçar-te que vamos adormecer ao som da voz um do outro, que pela manhã és o meu primeiro pensamento, mas não pode ser! Não pode, não podemos continuar assim, é pelo melhor, tem de ser.
-----Recebeu o telemóvel e aguardou impaciente, que soubesse o que dizer. Ele estava calado, será que queria que fosse embora, será que nem a quer ver, será que é assim sem dizer mais nada como se fosse igual a qualquer outra pessoa? Foi tudo uma ilusão? Este sentimento que cresceu ao longo dos últimos meses não teve valor nenhum? E continuas como se nada tivesse passado por ti, como se eu não fosse nada, ou pouco, tão pouco que podes retirar de ti com um simples gesto de recusa, que cheguei ao fim, que nem a dor de me arrancar dos teus braços te fazem qualquer mazela. Como te detesto, se soubesses como te detesto, só quero que desapareças para sempre.
-----Virou costas determinada a nem lhe dizer nada. Caminhou vagarosamente ajeitando o casaco para se proteger do frio. Ouviu a porta fechar e apertou-se num suspiro de ter conseguido passar a estrada sem olhar para trás. Mas a indiferença com que ele lhe falou, deixou-a ainda mais triste, com o vazio e a dor por companhia, sem novas palavras que lhe dessem motivos para continuar a achar que amanhã as coisas iam ser diferentes. – Ele parecia tão resoluto, nunca o vi assim, que frieza, nem parecia o mesmo. Será que é assim? As coisas acabam e cada um segue o seu rumo? Parece que tem a certeza de que acabou, e pronto, e termina com todas as ilusões que cresceram, com todos os sonhos planeados ao sabor da paixão, e consegue dilacerar todas as defesas que construí, como se me despedaçasse de dentro para fora, sem que eu nada possa fazer. E dói, e dói imenso! – E já não sabe o que é, onde está, sem rumo ou norte, sem hora sem amanhã, sem ar para respirar, tudo o que diz são lágrimas, tudo o que grita são soluços, tudo o que geme são suspiros de não saber, de não conseguir ver um futuro, na escuridão que a encobriu... Já sem forças para lutar consigo mesma, por uma razão a que se agarrar a uma relação que simplesmente cessa o existir.
-----Começa a chover, mas Inês nem se apercebe e continua à chuva que a molha ao percorrer o parque. O vento sopra, acordando as árvores, para que estas a cubram com seu manto, e brame com força: – Não vês um espírito divino que aguarda por ti? Não sentes o clamor da musa, a dor imensa que perturba o contínuo da natureza? Olha como atrai a si a chuva, repara como as flores se retraem à sua passagem, como o rio deixou de fluir, como o tempo não quer contar segundos. É a nossa inspiração a nossa poesia que ali vai. Não deixes a sua chama apagar, invoca os seres celestes, invoca todos quantos têm estado adormecidos para que venham ver, para que venham impedir as trevas de finalmente conquistar a luz.
-----Sentou-se num banco de jardim, cobrindo o rosto com as mãos, deixando esgotar todos os raios de esperança, rendendo-se à perda do alento, da sensação que sempre teve, que a sua vida tinha um significado um destino à espera de ser cumprido.